RESENHA DO CD - POR ALUÍSIO SANTOS

by Simples Rap'ortagem | 11:05 in |

Simples Rap’ortagem: rima carranca e batida iluminada.

Eu sempre fui fã da Simples Rap’ortagem e nesses 17 anos eles só fizeram estender suas raízes, produziram trabalhos super maduros, com posicionamento diante das questões do mundo e do seu entorno. Nesse novo trabalho a banda se consagra como mais um diamante do ritmo e da poesia. Colocaram nas ruas um biscoito fino que logo vi, realmente ser nordestino é um traço de identidade tão distinto, que por ser tão rico, merece ser visto e apreciado por todos, sem distinção... 

O disco abre com uma resposta as declarações dadas pelo então coodenador do curso de Medicina da UFBa, Antonio Dantas, onde ele desmoraliza publicamente seus conterrâneos e joga um dos principais elementos da cultura baiana, o berimbau, numa vala comum de ignorância e estupidez. A Simples Rap’ortagem joga um feixe de luz sobre a questão e mostra que o berimbau, um instrumento angolano, atravessou o oceano para dar os contornos de uma cultura singular e conectar essa mesma cultura com todo o planeta. Mestre Pastinha alinhado a Miles Davis, que está alinhado a Fela Kuti, por sua vez alinhado com Maestro Moacir Santos, que se alinha com Prince que alinhado a Luiz Gonzaga se alinha com todo talento dos sambistas do morro, dos mestres de côco e repente, ciranda que dialoga com os rappers das mais diversas periferias nos quatro cantos do mundo. Que retorna e se alinha como Naná, Mussum, Dom Salvador, Marku Ribas e Mestre Camafeu de Oxossi e por ai vai... 

Eu quero é proposta de troca a partir de toda essa nossa doação para o universo. Trabalhar com prazer, disciplina e paz de espírito para continuar contribuindo. E depois como todo bom baiano a Simple Rap’ortagem espanta o mau olhado junto com os parceiros do Z’áfrica Brazil colocando um espelho de rimas carrancadas para todo olho grosso. Tom Zé certa feita disse que os principais alimentos do nordeste são desidratados: o charque, a farinha e o ritmo. E a Simples Rap’ortagem é seca, no discurso e na batida. Não me subestimem! Dizem. Nessa nova formação, ao contrário das anteriores, ela tá desidratada e com um discurso cada vez mais amolado. No samba de roda Jorge Hilton, Preto Du, Zinho Trindade, as palmas, o cavaquinho, e o coro fazem uma festa típica do recôncavo baiano dentro do disco. Coisa fina. Ainda para a estrofe com uma umbigada. A faixa Xykaua é um ritual de maracá e tudo. Na poesia Corte o mal pela raiz o lirismo que Peu Gaitista imprime nos leva até a origem do blues no delta do Missisipi. Rima e gaita tratando de uma questão histórica, universal com uma roupagem nordeste até o osso. Independente do gaitista ser paulista, talvez São Paulo seja no fundo e no fundo a mais nordestina das nossas cidades. E depois é lógico: Cadê o cachê? Rei Roberto sampleado cola com a Simples Rap’ortagem na causa, ninguém mais que ele sabe que produzir custa caro. 

Oxente! Outro aliado também colou na banca pra tratar disso que é o nordeste para Brasil e para o mundo. Zé Brown, Kalyne, Preto Nando, rap'entistas  sangue bom. E Preto Du depois de nove faixas ainda quer se justificar. É nordestino mermo! A Simples Rap’ortagem mais uma vez com um trabalho conceitual que toca em diversas questões. Inclusive na incompetência da atual gestão de nossa prefeitura, que aprovou um PDDU predador e desempregou uma porção de trabalhadores. Pelo menos serviu pra um rap. 

E o rap, pra conscientizar a rapaziada de que viver é bom e viver muito melhor ainda, da maneira mais boresta possível. Deus Zé+ é aquele rap que quando você escuta identifica logo a banda, tem a cara da Simples Rap’ortagem com uma letra muito bem elaborada e um refrão quem segue a linha criativa do disco cristalizando a qualidade de mais um bom trabalho. Deixa leve, um hit que só toca no fim de um baile bonito, com uma mensagem assinatura do disco. “De uma chance pra você mesmo de ser diferente” Simples Rap’ortagem, rima carranca e batida iluminada. Rap repente.



Aluísio Santos é arquiteto e crítico de arte.

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